sexta-feira, 27 de abril de 2012

SOBRE O PAPEL DO TRABALHO NA TRANSFORMAÇÃO DO MACACO EM HOMEM

Download do livro : LIVRO - F.Engels


Engels e o macaco
Embora mais conhecido como um dos pioneiros do materialismo histórico, Engels dedicou parte de sua vida intelectual ao estudo das chamadas “ciências naturais”. Em um desses textos, Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem, publicado postumamente, Engels afirma que o trabalho é “condição básica e fundamental de toda a vida humana”, sendo possível afirmar que, em certo sentido, “o trabalho criou o próprio homem (ENGELS, s.d., p. 269). No contexto da época, tais afirmações eram bastante polêmicas, na medida em que o conjunto dos cientistas – e isso inclui os teóricos da evolução biológica – estavam marcados pela filosofia idealista, não considerando a importância do trabalho no processo evolutivo do homem.
Curiosamente, embora pouco conhecido – e nada estudado – esse pequeno e pretensioso ensaio de Engels, cujo objetivo era defender uma interpretação materialista da evolução humana – e não descrever um conjunto de conclusões acabadas e empiricamente comprovadas –, teve muitas de suas hipóteses corroboradas pelas descobertas das ciências biológicas ao longo do século XX. Nele, Engels apresenta as transformações históricas na relação entre a humanidade e o ambiente, sua intervenção sobre o meio e o processo de construção da sociedade. Engels procura demonstrar como o trabalho e a fabricação de diferentes instrumentos constituiu-se em fator fundamental na transição do macaco ao homem, num processo lento que inclui, entre outros elementos, o desenvolvimento de certas características físicas, como a mão, a fala e o próprio cérebro.
Para Engels, o fato de um grupo de macacos, há alguns milhões de anos, ter deixado de necessitar das mãos para caminhar, passando a adotar cada vez mais uma posição ereta e deixando as mãos livres para executar as mais variadas funções, foi o “passo decisivo para a transição do macaco em homem”. Usava-se antes as mãos apenas para tarefas como “recolher e sustentar alimentos (...) construir ninhos nas árvores (...) construir telhados entre os ramos (...) empunhar garrotes, com os quais se defendem se seus inimigos, ou para os bombardear com frutos e pedras” (ENGELS, s.d., p. 269-70). Tendo descido das árvores e fazendo uso da postura ereta, nossos ancestrais teriam aos poucos adaptado as mãos a novas tarefas. Embora nesse período de transição as funções que a mão cumpria fossem bastante simples, ela adquiriu ao longo do tempo mais destreza e habilidade, transmitindo de geração em geração essa flexibilidade adquirida.
Engels vê a mão como produto do trabalho. O longo processo decorrido até chegarmos à mão que temos hoje foi marcado pela adaptação a novas funções e “pela transmissão hereditária do aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos ossos (...) pela aplicação sempre renovada dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas” (ENGELS, s.d., p. 270). Também, além da questão da hereditariedade, Engels dialoga com Darwin quando corrobora a lei de “correlação de crescimento”, segundo a qual “certas formas das diferentes partes dos seres orgânicos sempre estão ligadas a determinadas formas de outras partes, que aparentemente não tem nenhuma relação com a primeira” (ENGELS, s.d., p. 271). Ou seja, como não é parte isolado do organismo humano, a mão é beneficiada, de alguma forma, pelo que beneficia todo o corpo. “O aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andar em posição ereta exercem indubitavelmente, em virtude da referida correlação, certas influências sobre outras partes” (ENGELS, s.d., p. 271).

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