quinta-feira, 20 de junho de 2013

e a ALICE?

O cartaz abaixo é do filme “Alice, no país das maravilhas”, da produção da Disney e com o excelente Johnny Depp – que também fez o incrível Willy Wonka, na “Fantástica Fábrica de Chocolate”.
O filme  é baseado no livro homônimo de Lewis Carroll a respeito de uma menina chamada Alice, que ao cair dentro da toca de um coelho se vê presa em um fantástico mundo povoado de criaturas fantásticas e insanas.
Esse cartaz é, na verdade, constituído de três outros, que quando juntos formam esse painel maravilhoso, lúdico e inusual.
Para percorrer o caminho semiótico, seria necessário antes pensar na fenomenologia e lidar com as sensações que o cartaz desperta.
Ao olhar para o cartaz eu me recordo instantaneamente de murais, de grafites – há certa semelhança que perpassa essas duas artes. A semelhança aparece no lúdico, naquilo que é próprio do onírico, do sonho. Talvez, por isso o meu interesse.
O sonho só se faz presente no ser humano por meio da linguagem, apenas ela revela o que há no inconsciente e é claro que esta revelação é sempre falha, sempre transformada em outro elemento. Por isso, que essa imagem parece-me como uma revelação do inconsciente, suas cores esfumaçadas, pouco brilhantes, mas ainda assim iluminadas se relacionam diretamente com os sentimentos, com as sensações, com as qualidades que povoam nossas mentes, nossos corações.

Outro fato relevante no cartaz é o movimento – é o olhar e o dedo que apontam, os ramos que se enrolam em si mesmos, a curiosidade da personagem, a corrida da outra. O cartaz tem em si um movimento suave, mas constante.
Há uma mistura tranqüila no cartaz de duas lógicas – a da sensação e a do movimento, respectivamente, primeiridade e segundidade. Já para a semiótica existiria a predominância do ícone em sua relação com o objeto (o livro de Lewis Carroll) a ser representado e, também, do índice.
Por sua vez, o cartaz como um signo trabalha muito com quali-signos, ou seja, com signos que são meramente qualidades e sin-signos que são signos existentes, que estão presentes naquele momento e naquele contexto.

Notadamente, há pouca predominância do aspecto convencional – quando se pensa na relação com o objeto e dos signos que são legi-signos, ou seja, que são regras.
As regras se presentificam na maneira como as mulheres estão vestidas, convencionalmente, são mulheres, porque se vestem como tais.
Outro aspecto interessante é a antropomorfização dos elementos do anúncio. Por exemplo, as flores têm cara de gente, assim como o coelho e o gato apresentam traços semelhantes aos seres humanos.
Há de se pensar, que de uma maneira ou de outra, estes elementos antropomórficos são representações dos personagens principais, pois se assemelham a eles.
Obviamente, por decisão estratégica o Chapeleiro Maluco interpretado por Johnny Depp está centralizado no cartaz, apesar de não ser o centro da estória no livro. Desta maneira, é possível compreender que o filme não é apenas uma adaptação, é também uma transformação do original com algumas surpresas.
É também interessante notar que à porta se encontra ao lado direito da personagem Alice, e convencionalmente o direito está associado à razão, a tudo que é certo e correto, enquanto que o corpo dela pende para o lado esquerdo, o lado do errado, do mágico, do espaço entre o despertar e o dormir.
Já a Rainha de Copas (assim identificada pela forma convencional como se veste, pela cor vermelha de raiva de seus cabelos e pelos corações que estampam seu vestido) aponta para o lado direito, como se mandasse a Alice de volta para o mundo racional. Parte do devaneio é construído pela princesa atrás da Rainha, que tem uma borboleta pousada em sua cabeça (será ela avoada?) e dois anões idênticos – cada um de um lado seu.
O aspecto lúdico é reforçado pelos cogumelos gigantes que constituem uma floresta – suas propriedades alucinógenas já foram vastamente discutidas tanto no âmbito científico, quanto no popular, ainda mais que há uma centopéia fumando um narguilé em cima de um deles.
O cartaz unificado cindi a personagem Chapeleiro Maluco – em um momento ele está sentado na ponta de uma mesa e embaixo da porta, perto da razão, e no outro ele está no centro da peça, olhando para frente, andando como se estivesse cheio de alegria e feliz. Ele oscila entre a razão e emoção pura, entra a estabilidade e a instabilidade. Parece-me uma personagem bastante dicotômica.
Aliás, a dualidade está muito presente na pela, prendendo a lógica do leitor na segundidade, no momento da ação e não do pensamento, da reflexão.
O Chapeleiro Maluco está duplicado, a Alice parece ter sua contraparte na princesa, que tem dois anões. O coelho tem seu reflexo no gato e as flores com rostos de gente são quatro, duas vermelhas e duas rosas. Somente a Rainha, como uma mônada, encontra-se sozinha na peça. Altiva, independente, dominadora e mandona.